UMA LEITURA DA PSICOSE NA CONTEMPORANEIDADE

Autores

DOI:

https://doi.org/10.61164/sbb5mz52

Palavras-chave:

Laço social, Psicanálise, Psicose

Resumo

O presente trabalho examina as configurações da psicose na contemporaneidade, com foco nas diferenças entre
a psicose clássica e a psicose ordinária. Busca-se articular tais conceituações às transformações do discurso do
mestre atual, a fim de compreender seus efeitos na subjetividade da época. Retomam-se as formulações de
Freud, que concebia a psicose como resultado da rejeição radical do Eu a representações incompatíveis,
ocasionando a ruptura com a realidade e a criação de uma nova realidade interna, marcada por alucinações e
delírios. Lacan, ao retomar o conceito freudiano de Verwerfung, o reformula como forclusão, entendendo a
psicose a partir da ausência do significante Nome-do-Pai na estruturação subjetiva, significante que introduz a
função da interdição paterna. A partir dessas bases, considera-se o conceito de psicose ordinária como forma de
compreender as manifestações clínicas contemporâneas em sua sutileza diagnóstica, frente à pluralização dos
Nomes-do-Pai e diagnósticos psiquiátricos. Paralelamente, destaque-se que os modos de relação entre sujeito e
Outro social, a constituição do sintoma e sua ligação com o saber inconsciente estão intimamente vinculados
ao desenvolvimento científico de cada época. Assim, se em outros tempos a paralisia histérica se relacionava ao avanço da neurologia, na contemporaneidade surgem depressões, anorexia, farmacodependências e psicoses
ordinárias como respostas sintomáticas às transformações sociais. Essas manifestações podem ser entendidas
como efeito do declínio dos ideais sustentados pelo Outro, do imperativo de consumo e do fortalecimento do
discurso neurocientífico, que orienta a produção de fármacos. Desse modo, evidencia-se que as mudanças
culturais e científicas incidem diretamente na configuração da subjetividade contemporânea.

Biografia do Autor

  • Fabrício dos Santos Fortunato, Universidade Estadual de Feira de Santana

    Acadêmico do curso de Psicologia da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS); Foi bolsista do projeto de extensão no Observatório Astronômico de museu e tecnologia (Antares) abordando tema da importância da visita ao museu para saúde mental sob orientação da Dra. Vera Aparecida Fernandes. É ex-membro da Liga Acadêmica de Psicologia Jurídica da Universidade do Estadual de Feira de Santana (2023.1) e da Liga Acadêmica de Psicologia Hospitalar(2024.1); Foi Diretor financeiro da Liga de Psicologia Jurídica nas gestões 2023-2024 e Diretor Científico da Liga Acadêmica de Psicologia Hospitalar na gestão 2024. Atualmente é voluntário do programa voluntário em iniciação científica (PEVIC) Sobre a linha de pesquisa "Inibições, sintomas e angústias: atualizando o mal-estar" cujo o tema abordado é "Uma leitura da psicose na contemporaneidade" coordenado pelo Professor Dr. Rogério de Andrade Barros e Bolsista de Iniciação científica CNPq com o tema "A definição de Psicose Ordinária: uma investigação psicanalítica", orientado por Dr. Rogério de Andrade Barros e membro atual da liga acadêmica de psicanalise do curso de psicologia da Universidade Estadual de Feira de Santana.

  • Rogério de Andrade Barros, Universidade Estadual de Feira de Santana

    Doutor em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGPSI/UFRJ), na área de concentração Subjetividade, Cognição e Práticas Clínicas, tendo realizado Doutorado-Sanduíche na Université Rennes 2, com financiamento do Programa Capes/PDSE. Mestre em Psicologia pelo Programa de Pós Graduação em Psicologia da Universidade Federal da Bahia (PPGPSI/UFBA), na área de concentração Psicologia do Desenvolvimento. Especialista em Teoria da Psicanálise de Orientação Lacaniana pela Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP) em parceria com o Instituto de Psicanálise da Bahia (IPB). Graduado em Psicologia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Tem experiência nas áreas de Psicologia, Psicanálise e Saúde Mental, atuando principalmente nos seguintes temas: clinica psicanalítica, novos sintomas, dor crônica, corpo, psicopatologia, subjetividade e contemporaneidade. Vice-Coordenador do Laboratório de Pesquisa em Psicanálise (LAPPSI-UEFS). Membro da Escola Brasileira de Psicanálise (EBP) e da Associação Mundial de Psicanálise (AMP). Professor Auxiliar da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).

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Publicado

2025-10-10

Como Citar

UMA LEITURA DA PSICOSE NA CONTEMPORANEIDADE. (2025). Revista Multidisciplinar Do Nordeste Mineiro, 19(1), 1-19. https://doi.org/10.61164/sbb5mz52